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segunda-feira, 8 de agosto de 2011

REBAIXAMENTO DO RATING NOS EUA

RIO - As principais bolsas europeias caem nesta segunda-feira, no primeiro dia de reação desses mercados ao rebaixamento do rating do crédito soberano dos Estados Unidos. Mas não há clima de pânico apesar da turbulência. Em uma tentativa de frear os impactos da queda da confiança na recuperação americana, integrantes do G-7 (o grupo dos sete países mais industrializados) e do G-20 (que reúne as 20 principais economias) divulgaram em comunicados que fariam o necessário para garantir a estabilidade financeira. O Banco Central Europeu também iniciou compras de títulos da dívida de Itália e Espanha, segundo a agência Bloomberg, para conter o descrédito dos bônus desses países e acalmar os mercados, conforme tinha sido anunciado no fim de semana.


Mas o nervosismo ainda prevalece entre os investidores. Por volta das 9h02, o principal índice de ações da Europa que reúne os 50 papéis mais negociados do continente, o Euro Stoxx 50, caía 0,73% em Londres. Também por lá o FTSE 100, que reúne as 100 principais ações do Reino Unido, caía 1,56% no mesmo horário. As Bolsas de Paris e Frankfurt também declinavam, respectivamente, 1,59% e 2,15%. Os mercados de Madri e Milão tinham os melhores desempenhos. O IBEX 35, da Espanha, subia 0,47% e o FTSE MIB, da Itália, subia 0,27%. Na Bolsa de Atenas, o principal índice (Athex Composite Shre) caía 3,87%.

Os principais índices de ações da Ásia fecharam em queda nesta segunda-feira. O índice Nikkei 225 da Bolsa de Tóquio encerrou o pregão em baixa de 2,2%, com 9.097 pontos. Em Seul, o índice Kospi fechou o dia em 3,82%, seu nível mais baixo desde outubro de 2010. O índice Hang Seng, de Hong Kong, caiu 2,18%, aos 20.490 pontos.

Reação do G-20 e do G-7

Integrantes do grupo das 20 principais nações industrializadas e em desenvolvimento (G-20) disseram estar preparados para agir de forma coordenada com o objetivo de estabilizar os mercados financeiros e proteger o crescimento econômico.

"Os ministros de Finanças e presidentes de bancos centrais do G-20 tomarão as medidas necessárias para apoiar a estabilidade financeira, o crescimento e a liquidez de maneira coordenada", informou um relatório emitido nesta segunda-feira.

"Nos manteremos em contato estreito nas próximas semanas e iremos cooperar apropriadamente, preparados para tomar medidas para assegurar a estabilidade financeira e a liquidez nos mercados financeiros", indicou o texto.

O relatório tem o mesmo tom do comunicado divulgado no domingo pelo G-7 (grupo das economias mais industrializadas, que reúne EUA, Reino Unido, Alemanha, França, Canadá, Japão e Itália). Na nota, o G-7 se comprometeu a assegurar liquidez aos mercados e garantir a estabilidade e o crescimento da economia global.

"Os EUA adotaram reformas que trarão redução substancial do déficit a médio prazo", afirmou a nota, que não citou o rebaixamento do país. O G-7 ainda ressaltou os esforços dos países da zona do euro que enfrentam uma crise de endividamento para colocar suas finanças em ordem.

Nesta segunda-feira os mercados passarão por um autêntico teste de estresse, no primeiro dia de funcionamento após o rebaixamento, na noite de sexta-feira, da nota de crédito soberano dos Estados Unidos pela agência de classificação de risco Standard&Poor's (S&P), de "AAA" para "AA+".

Em comunicado, o G-7 se comprometeu a assegurar liquidez aos mercados e garantir a estabilidade e o crescimento da economia global.

"Os EUA adotaram reformas que trarão redução substancial do déficit a médio prazo", afirmou a nota, que não citou o rebaixamento do país. O G-7 ainda ressaltou os esforços dos países da zona do euro que enfrentam uma crise de endividamento para colocar suas finanças em ordem.

O ministro das Finanças japonês, Yoshihiko Noda, disse nesta segunda-feira (horário local) que a confiança do mercado no dólar e nos títulos do Tesouro dos Estados Unidos não foi abalada, indicando a disposição do Japão de manter suas reservas de bônus do governo americano.

Noda disse também que os ministros de Finanças do Grupo dos Sete (G-7) concordaram, durante teleconferência, que a excessiva volatilidade e os movimentos desordenados do câmbio não era uma situação desejada.

- Continuaremos monitorando cuidadosamente os movimentos dos mercados - afirmou. "Também confirmamos a posição do G-7 sobre as moedas", acrescentou.

As bolsas de todo o Oriente Médio caíram no domingo, primeiro pregão dos mercados locais após o rebaixamento histórico do rating do crédito soberano dos EUA. Mercados da região operam principalmente de domingo a quinta-feira. Por isso, foram os primeiros a reagir à decisão da agência de classificação Standard & Poor de reduzir a nota do crédito dos EUA em um ponto

O ouro atingiu o recorde de US$ 1.670,70 a onça-troy (31,1g) na negociação eletrônica da Comex, em Nova York. Depois recuou a US$ 1.687,20, alta de 2,14%. Em nota, o banco UBS afirmou que o ouro pode atingir US$ 1.725 a curto prazo. Já o dólar chegou a cair 2,5% em relação ao franco suíço em Tóquio. A queda desacelerou depois a 1%, a 0,7597 franco. O euro, após subir 1%, avançava 0,3%, a US$ 1,4326.

BCE comprará títulos de Itália e Espanha

O conselho do Banco Central Europeu (BCE) se reuniu neste domingo de forma extraordinária, através de uma teleconferência, para analisar a crise da dívida. Durante a reunião foi indicada a compra de títulos da dívida do governo italiano, para deter a crise na zona do euro. O presidente do BCE, Jean-Claude Trichet, busca uma definição de políticas para decidir sobre a compra de títulos italianos, após o primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, ter anunciado novas medidas na sexta-feira para acelerar a redução do déficit e acelerar as reformas econômicas.

O BCE, segundo fontes, também se prepara para comprar títulos da dívida da Espanha, para tentar ajudar os dois países. Na semana passada, o BCE fez o mesmo com papéis da Irlanda e de Portugal. A Espanha é outro país que passa pela crise, com alto índice de desemprego e endividamento público, aliado ao fraco crescimento econômico. Analistas temem que Itália e Espanha sigam o caminho de Grécia, Irlanda e Portugal, que precisaram de pacotes de ajuda externa para salvarem suas economias.

Em uma declaração conjunta neste domingo, a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, e o presidente da França, Nicolas Sarkozy, ressaltaram seu compromisso de "implementar plenamente" as decisões tomadas por uma cúpula europeia no mês passado que expandiu os poderes do Fundo de Resgate da Zona do Euro. Ficou aprovada na ocasião a permissão para que o Fundo de Resgate compre títulos de dívidas dos países em dificuldades nos mercados secundários.

Os líderes destacaram que as medidas que dinamizam o Fundo de Resgate da Zona do Euro terão "aprovação parlamentar obtida rapidamente até o final de setembro" na França e na Alemanha.

Merkel e Sarkozy saudaram os planos da Itália e da Espanha e disseram que a promessa do primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, de equilibrar seu orçamento um ano antes da proposta anterior "é de fundamental importância".

Mas a situação dos EUA ainda pode se agravar. Em entrevista à rede de televisão ABC, o diretor-gerente da S&P, John Chambers, afirmou que há uma chance em três de um novo rebaixamento, em um período de seis meses a dois anos.

- Se a posição fiscal dos EUA se deteriorar mais ou se a disputa política se tornar mais arraigada, isso pode levar a um rebaixamento. A perspectiva indica pelo menos uma chance em três - disse Chambers, acrescentando que os EUA levarão algum tempo para recuperar a nota "AAA". - Exigiria uma estabilização da dívida e maior habilidade para obter consenso em Washington do que vemos hoje.

Kerry: Rebaixamento é do Tea Party

O ex-presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) Alan Greenspan disse ontem à rede de televisão NBC que as quedas dos mercados - que semana passada registraram as maiores perdas desde 2008 - devem continuar por algum tempo.

Assessores do governo Barack Obama montaram uma ofensiva na mídia como reação à decisão da S&P, com a clara intenção de desacreditar a agência. O diretor do Conselho Econômico Nacional da Casa Branca, Gene Sperling, condenou a "magnitude do erro" da agência, referindo-se a uma diferença US$ 2 trilhões apontada por técnicos do Tesouro no cálculo da S&P sobre o índice da dívida em relação ao Produto Interno Bruto (PIB, soma de bens e serviços produzidos por um país) americano.

O ex-secretário do Tesouro e ex-assessor econômico da Casa Branca Larry Summers endossou as críticas:

- O histórico da S&P é terrível e, como vimos neste fim de semana, sua aritmética está pior. Então, não há nada de bom a dizer sobre o que eles fizeram.

Austan Goolsbee, que na sexta-feira deixou a direção do Conselho de Consultores Econômicos da Casa Branca, acusou a S&P de "cálculo desleixado".

- As agências de rating que não fizeram um erro matemático de US$ 2 trilhões reafirmaram o status "AAA" (dos EUA) - afirmou Goolsbee em entrevista ao programa de TV "Meet the Press", da rede NBC.