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segunda-feira, 14 de março de 2011

ESFRIAMENTO DA ECONOMIA E NEGOCIAÇÕES SALARIAIS

Esfriamento da economia deve dificultar as negociações salariais em 2011 Ao contrário de 2010, reajustes acima da inflação tendem a diminuir


As negociações salariais entre patrões e empregados não serão nada fáceis neste ano. Se, em 2010, mais de 90% dos acordos resultaram em reajustes iguais ou acima da inflação, em 2011, os sindicatos terão de travar uma verdadeira queda de braço se quiserem assegurar ganhos semelhantes às suas bases. De um lado, os empresários alegam que, como a atividade econômica está em desaceleração, não podem oferecer aumentos reais. De outro, os trabalhadores reclamam que a alta dos preços está corroendo o poder de compra, sobretudo de quem ganha menos.

O coordenador de Relações Sindicais do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), José Silvestre Prado, explica que, mais do que em outras épocas, o empresariado tende a endurecer o jogo. “Todo o pano de fundo é o crescimento da economia. Mas os sindicatos devem continuar na briga pelo aumento real”, resume. Nas previsões do mercado, o Produto Interno Bruto (PIB) avançará entre 3,2% e 3,9% neste ano, sendo que um dos pilares será o setor de serviços. Bancários, metalúrgicos, professores, rodoviários e petroleiros já se organizam para lançar campanhas salariais duras. Na lista de prioridades estão, entre outras coisas, reposições acima da inflação no contracheque, atualizações no valor dos principais benefícios e aumento na participação nos lucros das companhias.

A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) admite certa tensão durante as negociações diante das mudanças do cenário macroeconômico. O diretor de Relações do Trabalho da entidade, Magnus Ribas Apostólico, afirma que, embora seja cedo para excluir as possibilidades de aumento real, a tendência é que os reajustes ocorram em ritmo menor que os observados nos últimos seis anos. “Nossa negociação ocorre apenas em agosto e setembro e, agora, estamos observando o mercado. Como teremos crescimento econômico menor, os acordos devem girar em torno da inflação”, destaca.

CarênciaEnquanto a maioria dos trabalhadores enfrentará obstáculos para conseguir ganhos reais de salário, profissionais qualificados continuam em alta no mercado. Com isso, para conseguir oferecer serviços ou produtos de qualidade, as empresas têm apenas duas saídas: treinar o trabalhador ou pagar mais para tirá-lo da concorrência. “Esse é outro dado da conjuntura. Falta mão de obra em alguns setores”, explica Silvestre Prado, do Dieese.

Entre os setores mais carentes, destacam-se construção civil e tecnologia da informação. Além disso, ressalta o especialista, mesmo que haja um desaquecimento da economia neste ano, em 2012 o cenário tem tudo para ser promissor. “No próximo ano, o salário mínimo deve aumentar entre 13% e 14%, o que terá um possível impacto positivo nas negociações”, reforça Prado. Em 2010, o Brasil criou 2,5 milhões de empregos formais, conforme dados oficiais do Ministério do Trabalho, um recorde. Em janeiro passado, a taxa de desocupação chegou a 6,1% em janeiro, considerada por especialistas o patamar mais próximo do pleno emprego.

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